quarta-feira, 16 de abril de 2008

AS MULHERES ESCRITORAS NA HISTÓRIA DA LITERATURA GALEGA: OCULTAÇOM E SILENCIAMENTO

Com motivo do V Certame literário feminista do Condado publicamos um trabalho na sua totalidade, feito por Belem Grandal, membro da AMC. Este texto foi realiçado para o doze meses,doze luitas deste mês.



As mulheres escritoras na história da Galiza e da nossa literatura sofrêrom grandes atrancos para o desenvolvimento do seu labor já que, o que primava naquele momento era um sistema patriarcal com umha injusta desigualdade de género, onde a mulher era considerada como um simples complemento sob a tutela do homem. Marginalizada e afastada durante anos, e mesmo séculos, de história do mundo da cultura e do acesso à educaçom, esta situaçom impediu a sua dedicaçom ao mundo literário, nom por falta de dotes criativas, nem sensibilidade cultural, mas porque a sua capacidade para escrever polas razons aduzidas estava minguada.

Nom será pois até o século XIX quando a autora de Cantares gallegos (1863) Rosalia de Castro, considerada por algumhas escritoras como a “mae da literatura actual” e grande poeta, experimentou ela mesma a negaçom e o silenciamento a que a sociedade submetia as mulheres nessas datas. Ela mesma foi consciente do silenciamento quando lhe foi negada a capacidade intelectual pola autoria das suas obras.
Foi portanto negada e ocultada, por ser mulher e escritora, por escrever em galego, língua que nesses momentos era considerada própria da incultura, por ser firme impulsora e defensora da identidade galega, e ademais por criticar o trato dado à emigraçom galega nas terras de Castela. A partir de Rosalia começa a história da mulher na literatura galega, mas com grandes eivas que continuam a impedir o acesso integral das mulheres à escrita.

Outras companheiras literatas e contemporáneas de Rosalia fôrom Emília Pardo Baçám e Conceiçom Areal que apesar de pertencer às camadas acomodadas da sociedade dessa época, com maiores possibilidades de acesso à cultura, recebêrom críticas de muitos dos seus companheiros masculinos por saírem dos canais habituais estabelecidos para as mulheres e ocupar espaços que até entom eram património exclusivo dos homens. Nas obras de estas escritoras foi reflectida a temática feminista, defensora da emancipaçom das mulheres, reclamando o seu protagonismo em todos os campos da vida social. Fôrom também vetadas em algumhas instituiçons polo facto de pertencerem ao sexo feminino.

Tinha grande influência nesta época também a rígida moral católica que dominava a sociedade mesmo até primeiros do século XX. Desta maneira Filomena Dato Murais escreve um poema Defensa de las mujeres de tom feminista mas incluído na tradiçom católica, e Francisca Herrera Garrido autora de um ensaio A muller galega também de umha perspectiva tradicional católica e conservadora.
Com o advenimento do regime republicano entre 1931-36 é permitido o acesso da mulher à cultura e aumenta o número de escritoras. Umha delas é Mª Luz Morais Godoi com umha brilhante trajectória literária, que recriminava à mulher culta de Galiza o abandono da sua língua, pronunciando-se sobre a necessidade de ensinar o galego, e que posteriormente sofreu repressom polo seu apoio às conquistas sociais da etapa republicana.
Também Mª Barbeito Cervinho seguindo a filosofia propugnada pola Institución Libre de Enseñanza defendia a co-educaçom e a Escola única, foi umha feminista com umha importante trajectória profissional, publicando textos que abordavam a questom feminista, e assistindo a actos com este carácter, sendo “depurada” no ano 1936 com a imposiçom da ditadura franquista. Assim mesmo Pura Lourençá com os seus trabalhos de investigaçom no campo histórico interessou-se polos problemas da sociedade galega fazendo um elogio da Galiza na Asociación Femenina de Santiago em 1931. A Guerra Civil encaixota os inícios deste desenvolvimento de autoras. As que virám a partir de entom enquadram-se no chamado “tradicionalismo católico” característico do franquismo.

Será Áurea Lourenço com “Queixas” (1943) quem inaugura a produçom em galego das mulheres escritoras na pós-guerra, ainda que marcado por um profundo sentimento religioso.

Mª Marinho e Pura Vasques nesta época de pós-guerra sofrêrom o isolamento e a marginalizaçom que caracterizou nom só o seu labor narrativo, mas a sua vida como mulheres à sombra do homem, padecendo os trágicos efeitos da invisibilidade e da negaçom pola época que lhes tocou viver. Como sucedera com Rosalia de Castro chegárom a suscitar dúvidas sobre a autoria dos seus textos literários.
A trajectória vital e social da primeira destas autoras vem marcada pola sua procedência humilde daí a sua marginalidade. Som autoras influídas pola religiosidade da época que dotam as suas obras de nostalgia e intimismo.
Joana Torres reivindicará um espaço para as mulheres e para a sua voz e todo isto na procura de umha identidade galega.
Será a partir de 1975-80 quando renasce o movimento feminista com o objectivo de derrubar o poder de género masculino. Na primeira metade da década de 80 um grupo de escritoras fundam a revista Festa da palabra silenciada que pretendia dar visibilidade às mulheres galegas e ao seu trabalho nos eidos artísticos e de criaçom, e que até entom permaneciam silenciadas nos meios de comunicaçom e nas publicaçons literárias e culturais do País, assim como também difundir o pensamento feminista.

A presença de escritoras a partir dos anos 80 até hoje cresce embora nom o suficiente para atingir umha paridade com o homem, apesar dos avanços relativos na igualdade dos sexos e no acesso à cultura e à educaçom. Assim podemos mencionar algumhas escritoras contemporáneas como Marica Campo, Chus Pato, Ana Romani, Mª José Queiçám, Luísa Vilalta, Iolanda Castanho.

Muitas destas autoras vinhérom enriquecer o mundo literário pois surge um novo tratamento dos temas com umha singular visom feminina da realidade social, e temáticas novas desde a sua perspectiva de mulher, como o parto, gravidez, aborto...

Mas nom toda a literatura feminina se define por umha ideologia feminista na qual o objectivo que se procura é a libertaçom da mulher da invisibilidade e marginalizaçom social e económica que ainda padece na actualidade.

O feminismo tem conseguido alguns avanços enquanto a igualdade de sexos e sobre todo como já mencionámos no aceso à cultura e à educaçom, mas ainda resta muito por fazer, pois a mulher deve manter umhas jornadas laborais intermináveis onde ao trabalho fora da casa há que somar o trabalho doméstico e de cuidado e responsabilidade das filhas e filhos, trabalho que nom é compartilhado em pé de igualdade com o homem, o que lhe impede contar com o tempo necessário para entrar de cheio e com êxito no mundo da literatura.

Som primordiais umha série de mudanças para:
-Atingir a participaçom das mulheres em todos os campos da vida social e cultural.
-Fomentar a participaçom literária da mulher. Para isto é imprescindível valorizar o trabalho doméstico de maneira que podam dispor dos meios, recursos e tempo necessários para desenvolver a actividade literária.
-Promover a igualdade de oportunidades desenhando actividades dirigidas a este fim.
-Erradicar a publicidade sexista e discriminatória.
-Educar as filhas e filhos na igualdade.
-Dar cabimento através de canais de expressom adequados à sua originalidade criativa.

E claramente, quanto ao sistema patriarcal, independentemente dos relativos e muitas vezes formais avanços que já mencionamos, permaneça inalterável, continuará fazendo invisível e ocultando o valor real do trabalho doméstico, sustento da pirámide no actual modo de produçom capitalista que, junto com a funçom de paridora de filhas/os na reproduçom de classe trabalhadora, som alguns dos elementos essenciais e sustentadores deste sistema económico, sem os quais tremeriam os seus alicerces e impediria a concentraçom da riqueza numhas poucas maos.