quinta-feira, 26 de março de 2009

Poemas 8 de Março

A continuaçom reproduzimos vários dos poemas da companheira Concha Rousia ( ganhadora do III Certame Literário feminista do Condado organizado pola AMC) umha das nossas convidadas ao acto do dia Internacional da mulher trabalhadora.




Penélope

Sou poeta, mulher e navegante
Minha nave é papel, tinta é o mar
Não sou escravo teu pra te aguardar
Sou mulher, teu igual e tua amante

Rompo tear, e mitos sem semblante
Deixo casa, deixo filhos e lar
Não dependo de ti, sós eu e o ar
Ergo velas ao céu, eu arrogante

Vogo, escrevo, mantenho meu tino
Escolho a quem seguir, sigo as estrelas
Marco meu rumo, creio meu destino

Já não quero tecer, nem fio fino
Eu amo o corpo nu, não teias belas
E amo Zeus, como amo Feminino




Despedida


Meu amado,


Desculpa que me vá embora hoje, sei que é tarde e deveria aguardar polo nascer do dia... mas prefiro o abraço da noite que me dá seu silêncio e nada pede...

Obrigada por não atirar a mim as tuas perguntas, sabes que em ti, e só em ti, acharás as respostas. Permite-me que me despida assim, nesta pequena carta que nem a carta chega, mas sei que se aguardo pola alva não seria eu a mulher que agora me vejo... e meus pés se negariam a me levar ao meu destino, eu sei isso...

Sim, a razão da minha partida, agora ia te contar, sim..., porque eu não quero que tu padeças por minha ida, pois minha ida nada tem a ver contigo e sim comigo, verás...

Eu vou-me porque achei um espelho...

Um espelho no que eu me vejo como tu querias que eu fosse quando me miras.



Amaia, 28 de Fevereiro de 2009


Concha






As mulheres em mim

I

Sou demasiado ampla
demasiado contraditória
para que tu,
meu amor,
possas chegar
a amar todas...

II

Há uma eu que te nega
que diz não devias existir...

E há uma outra eu
que vive só em ti.




Ser

Pertenço a uma cultura milenar

Sou chinesa
Sou africana
Sou japonesa

Sou calaica sou índia e sou malaia

Sou a Terra
Sou mulher
Sou mãe
Sou filha
Sou filha da filha
Sou infinita


A razão do meu amor

Não te amo por tu seres luz na escuridade
Nem calor para o meu corpo no inverno

Não te amo por tu seres música no silêncio
Nem abraço de palavras quando distantes

Não te amo por tu seres sombra no verão
Nem água que mata a sede na que eu ardo

Não te amo por seres nenhuma dessas cousas

Eu amo-te apenas por seres verdade na verdade

Água na fonte
Calor no verão
Escuridão da noite
Abraço no abraço
Trono no trono
e
Silêncio no silêncio.


Todos os meus seres

Cruzei o mar e meu cabelo
ondulou-se para sempre

Estiquei os braços e senti
que me nasciam plumas
e o ar as elevava ao céu

Fechei os olhos e neles
pousaram-se as estrelas

Andei descalça pola relva
e a terra deu-me raízes
e contou-me que eu sou dela.

Galiza

Navegante sem trégua nas feridas
teu barco a deriva
teus marinheiros cegos e doidos
embriagados de rum e esquecimento

Galiza
onde ficam teus planos das estrelas?
onde os olhos límpidos que os leiam?

Galiza
afunde já este navio
e dá paz a teu corpo em agonia

Serás lembrada Terra livre e formosa
Terra de homens e mulheres
que viveram
que amaram
que existiram
e morreram
Mas deixa de padecer por estes corpos baldios.

Concha Rousia






Se queredes conhezer mais de esta poeta:


ttp://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=37698&categoria=8&lista=ultimas